quinta-feira, setembro 29, 2005

Prosa Impúrpura do Caicó


Ah! Caicó arcaico
Em meu peito catolaico
Tudo é descrença e fé

Ah! Caicó arcaico
Meu cashcouer mallarmaico
Tudo rejeita e quer
(...)

Só um tantim assim de poesia já incendeia minha pobre pobre prosa impura.
Graças a Chico César.

segunda-feira, setembro 26, 2005


Ando um pouco atarefado com carreteiros, carretos e jogos do Inter.

Também tenho trabalhado um pouco no outro blog.

quarta-feira, setembro 21, 2005

LA MONEDA DE HIERRO - Literaturnost

Aquí está la moneda de hierro. Interroguemos
las dos contrarias caras que serán la respuesta
de la terca demanda que nadie no se ha hecho:
?Por qué precisa un hombre que una mujer lo quiera?
Miremos. En el orbe superior se entretejen
el firmamento cuádruple que sostiene el diluvio
y las inalterables estrellas planetarias.
Adán, el joven padre, y el joven Paraíso.
La tarde y la mañana. Dios en cada criatura.
En ese laberinto puro está tu reflejo.
Arrojemos de nuevo la moneda de hierro
que es también un espejo mágico. Su reverso
es nadie y nada y sombra y ceguera. Eso eres.
De hierro las dos caras labran un solo eco.
Tus manos y tu lengua son testigos infieles.
Dios es el inasible centro de la sortija.
No exalta ni condena. Obra mejor: olvida.
Maculado de infamia[.] ?por qué no han de quererte?
En la sombra del otro buscamos nuestra sombra;
en el cristal del otro, nuestro cristal recíproco.

(J.L. Borges, La Moneda de Hierro, 1976)

segunda-feira, setembro 19, 2005

Mês de pais mortos - Shadowlands


O Evangelho de João/José

No início era verso, e o verso estava com o pai, e o verso era o pai.
E tu surgiu através dele, e tudo se formou...
E o verso se fez carne, e o verso semente se fez flor e tudo o mais desabrochou...

Dia 7 fez 15 anos que morreu meu pai, João S. B. A.; hoje faz um ano que morreu meu sogro, José H. R.. Meu pai era ação, era verbo, como no evangelho de João, e estava mesmo no princípio. Meu sogro era poeta, era verso, como o evangelista. A um e outro agradeço.

terça-feira, setembro 13, 2005

Lua Safo - Literaturnost


“Astros circundam
A bela lua,
A maior entre todos.”

A síntese e a simplicidade deste poema, quase um haikai, escrito 2000 anos antes de Bashô, mostra a genialidade de
Safo de Lesbos, a melhor poetisa, a maior entre todos.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Maria - Literaturnost


A lua, o mar e a poesia
estão no amor de bem poucos.
No amor dos cegos, Maria,
dos cães e também dos loucos...

(José Hilário Retamozo)

sábado, setembro 10, 2005

Desapeg/Aceit X Neg/Peg

Emerenciana Borba, minha amiga, escreve dizendo que eu a induzi em erro ao recomendar a prática de Pegação e Negação (Neg/Peg) para ego ferido, e que isso a levou a comentar um post do Megeras, sendo repreendida pela Megera Madrinha Ro por se tratar de um rito tipicamente masculino, etc. A partir disso, megeras-leitoras lêem este blog com certa desconfiança... Emerenciana, Megera Madrinha e megeras-leitoras, pela paz entre os gêneros, há um pouco de espiritualidade nos ritos originalmente masculinos.

O ritual de Desapeg/Aceit serve para enterrar o que já não está cheirando bem e restaurar o auto-apego/auto-engano, o que pode levar a pessoa a viver segundo o velho princípio de lealdade - “enganar aos outros como engana a si mesma”. Uma auto-imagem estanque é tão morta quanto o de cujus. Esse apEGO leva muitas vezes ao ego ferido.

A prática do Neg/Peg, assim como várias práticas orientais, tem origem na imitação da natureza, mas não se reduz a isso. Muitos homens agem inconscientemente na caça/conquista/abandono mas isso não chegam a ser um prática porque carece de um mínimo de auto-consciência. Como um mecanismo inconsciente, não é uma forma de desapego ao ego ferido, é uma fuga desesperada de qualquer encontro consigo mesmo. Entretanto, budicamente observado, o que esses seres fazem por instinto pode gerar uma prática que tem fundamento.

Síntese Neg/Peg

Origem: Imitação da natureza
Fundamento: Negar o orgulho ferido é uma forma de desapEGO que busca não reconstruir o auto-engano. Pegar é mergulhar novamente na vida e não isolar-se em auto-contemplação.
Resultado: Descobrir-se outra. Nem ele era tudo aquilo, nem eu era aquela.

Mas cuidado, Neg/Peg não é uma forma de vida. É uma prática consciente e criteriosa que, se bem utilizada, pode liberá-la tanto do morto quanto da morta.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Pobres Muchachos - Literaturnost


Cómo cuesta en este planeta
amarnos con tranquilidad:
todo el mundo mira las sábanas,
todos molestan a tu amor.

Y se cuentan cosas terribles
de un hombre y de una mujer
que después de muchos trajines
y muchas consideraciones
hacen algo insustituible,
se acuestan en una sola cama.

Yo me pregunto si las ranas
se vigilan y se estornudan,
si se susurran en las charcas
contra las ranas ilegales,
contra el placer de los batracios.
Yo me pregunto si los pájaros
tienen pájaros enemigos
y si el toro escucha a los bueyes
antes de verse con la vaca.

Ya los caminos tienen ojos,
los parques tienen policia,
son sigilosos los hoteles,
las ventanas anotan nombres,
se embarcan tropas y cañones
decididos contra el amor,
trabajan incesantemente
las gargantas y las orejas,
y un muchacho con su muchacha
se obligaron a florecer
volando en una bicicleta.

(Pablo Neruda)

quinta-feira, setembro 08, 2005

Samsara - Ins Kino



Questionamentos do discípulo Tashi para o mestre Apo, diante de uma estátua de Buda:

"- Até a Ele [Buda] foi concedida uma existência mundana até os 29 anos! Mas, desde que tinha 5 anos, eu fui disciplinado a viver como Buda, após Ele ter renunciado ao mundo. Por quê? Como podemos saber se a sua iluminação não foi também um resultado direto de sua existência mundana? Apo, onde está a liberdade a mim prometida após a rígida disciplina monástica? E a prometida satisfação do nosso voto de celibato?
'Não deves aceitar meus ensinamentos de pronto a menos, e até, que os entendas do teu próprio ponto de vista'. Disse Ele uma vez.
Tem coisas que devemos 'desaprender' para poder aprendê-las. E tem coisas que precisamos possuir para poder renunciar a elas."

Após os questionamentos sem resposta, Tashi abandona o mosteiro e leva uma vida mundana por anos, quando recebe uma carta do mestre:

"- Agora percebo que minha tarefa ainda não terminou e, por isso, estarei voltando para Samsara. Eu sei que nos encontraremos de novo. Talvez quando isso acontecer você possa me dizer o que é mais importante. Satisfazer mil desejos ou conquistar apenas um. Do seu Apo."

Trechos do filme Samsara, escrito e dirigido por Pan Nalin.

terça-feira, setembro 06, 2005

Solilência - Literaturnost

Ah solidão
Em que toda a fala é soluço
É topeço de fala entalada
É suspiro de afago contido

Em que cada fala tentada
É lágrima de aconchego querido
É braço estendido no espaço

A solilência nasce do perfeito casamento da solidão e do silêncio

segunda-feira, setembro 05, 2005

Nel mezzo del cammin - Literaturnost



Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
ché la diritta via era smarrita.

Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvaggia e aspra e forte
che nel pensier rinova la paura!

Tant'è amara che poco è più morte;
ma per trattar del ben ch'i' vi trovai,
dirò de l'altre cose ch'i' v'ho scorte.

Io non so ben ridir com'i' v'intrai,
tant'era pien di sonno a quel punto
che la verace via abbandonai.

Ma poi ch'i' fui al piè d'un colle giunto,
là dove terminava quella valle
che m'avea di paura il cor compunto,

guardai in alto, e vidi le sue spalle
vestite già de' raggi del pianeta
che mena dritto altrui per ogne calle.

Allor fu la paura un poco queta
che nel lago del cor m'era durata
la notte ch'i' passai con tanta pieta.
---

Há mais de dez anos sei decor estes versos. Decor no sentido original - ter no coração, saber de-coração. Em inglês até hoje se diz ‘to know by heart’. Então há muito tempo tenho estes versos no coração.
Assim Dante começa a Commedia. São os versos iniciais do primeiro canto, que é um canto introdutório aos outros noventa e nove cantos - 33 do Inferno, 33 do Purgatório e 33 do Paraíso. É relato do estado em que se encontrava o personagem...
'Nel mezzo del cammin di nostra vita mi ritrovai per una selva oscura ché la diritta via era smarrita.'
No meio do caminho da nossa vida - significa por volta dos 35 anos de idade porque na época de Dante acreditava-se que um bom tempo de vida seria 70 anos - me encontrava em uma selva escura porque a via correta estava perdida.
Antes esses versos já me diziam muito, mas agora, talvez porque recém completei 35 anos, eles me tocam mais do que nunca.
Li várias traduções da Commedia em prosa e em verso. Há uma nova da edição da Editora 34, em três volumes, bilíngue, que é bem interessante, mas acabei optando por uma outra, em um único volume, com tradução de Vasco Graça Moura e boas notas, da Editora Landmark. Tenho uma edição italiana de bolso que comprei na casa que dizem ter sido de Dante, em Florença. O Inferno cabe, e tem andado, no meu bolso...
Quero deixar claro que não acredito em Inferno, Purgatório ou Paraíso, aqui ou em outro lugar, assim como não acredito que teremos Star Wars, mas não deixo de me emocionar nem com os pesares de Francesca e Paolo (Canto V), nem com a desgraça de Anakin Skywalker...

domingo, setembro 04, 2005

Os corvos - Literaturnost


Uma vez, à meia-noite
Enquanto eu lia, lentamente, obras de obscuro autor
Ouvi um farfalhar vindo dos livros, abafado, ao meu redor
Olhei em cada estante e encontrei, dentre eles, o maior

Era um livro com quadros
De artistas conhecidos, uns antigos outros novos,
Que eu folheava sem pressa a ouvir o farfalhar
E de todos o mais ruidoso era Os Corvos de Van Gogh

Perguntei-lhes se algum dia retornaria aos meus iguais
E mil corvos responderam, revoando os trigais
Que eu perdesse a esperança
Reencontros nunca mais

sábado, setembro 03, 2005

Sussuros - Literaturnost

Houve um tempo de voz; um tempo de homens loquazes.

As vozes troantes retumbavam com perseverança e futuro.

As idéias transitavam através da sala; ora como flecha, ora como pluma.

Num pequeno quarto estavam depositadas novas certezas, tecidas ao som das palavras. Outros termos eram cunhados e levados ao fogo.

Agora é um tempo calado; um tempo de homens calados.

Tudo transcorre em sussurros...

Algumas idéias, mais rebeldes, são abafadas pela solidão.

Já não há depósito, tecitura, forja ou calor; já não há ouvidos...

Quando não se tem voz, sussurra-se ao papel,

que surdo nada entende
mas, como muitos, aceita.