ANDREA - O senhor conquistou o sossego necessário para escrever a obra de ciência que ninguém mais poderia escrever. Se o senhor acabasse em chamas na fogueira, os outros é que teriam vencido.
GALILEU - Eles venceram. E não existe obra de ciência que somente um homem possa escrever.
ANDREA - Então por que o senhor abjurou?
GALILEU - Eu abjurei porque tive medo da dor física.
ANDREA - Não!
GALILEU - Eles me mostraram os instrumentos.
ANDREA - Então não foi um plano.
GALILEU - Não foi.
ANDREA - A ciência só conhece um mandamento: a contribuição científica.
GALILEU - E essa eu dei. Bem-vindo à sarjeta, irmão na ciência e compadre na traição! Você gosta de peixe? Eu tenho peixe. O que fede não é o peixe, sou eu. Eu estou em liquidação, você é freguês. Ó irresistível sedução livro, essa mercadoria sagrada! Corre água na boca, e as maldições se afogam. A Grande Babilônia, a besta assassina afasta as coxas, e tudo mudou! Santificada seja a nossa congregação de traficantes e puxa-sacos mortos de medo de morrer!
(Brecht, 'A vida de Galileu', cap. 14)