sábado, dezembro 31, 2005

Fechando 2005

Pensei em fechar 2005 fazendo algumas homenagens a quem me acompanhou:

Literatura 2005 - Francisco José Viegas - Longe de Manaus;

Pop Nacional 2005 - Los Hermanos - Condicional;

Jazz 2005 - Madeleine Peyroux - Careless Love;

Pop Internacional 2005 - Damien Rice - Cannonball;

Cinema 2005 - Zhang Yimou - Clã das Adagas, Herói, etc;

Clássicos 2005 - João Carlos Martins - Cravo Bem Temperado;

Revival 2005 - Pearl Jam - Turnê Brasileira;


Mangá 2005 - Keiji Nakazawa - Gen, pés descalços.

Literatura - 2005

F.J. Viegas - Longe de Manaus
“Da janela do quarto ele vê mais além: uma linha de coqueiros pendurada sobre o mar que ficou amarelado com as chuvas. Mas, se vivesse muitos anos, seria o som do clarinete que recordaria, um som estridente que o levaria a recordar as grandes canções da sua vida, se recordasse as grandes canções e não apenas esse emaranhado de cores das capas dos discos, ou de coisas a preto e branco. E nenhum clarinete foi como aquele, também, o que se ouvia ao começo da noite, entre o cheiro de comida, os ruídos da rua, as gargalhadas do bar na esquina, onde se vendia cerveja Kaiser e aguardente de cana. Nenhuma recordação foi como aquela, o que era bastante triste num homem obrigado a deixar tudo para trás.”

(grifos meus, Longe de Manaus, parágrafo final do Cap. 2)

Pop Nacional - 2005

Los Hermanos

No post sobre o show fui injusto em vários aspectos, ainda mais por não ter falado das letras. Eu os considero destaque do ano:

“Quis nunca te perder
Tanto que demais
Via em tudo céu
Fiz de tudo cais
Dei-te pra ancorar
Doces deletérios

E quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão
Que hoje eu entendi
Sonho não se dá
É botão de flor
O sabor de fel
É de cortar”

(Condicional - Rodrigo Amarante)

Jazz - 2005

Madeleine Peyroux

Comprei este CD durante o FSM, em janeiro, e ouvi o jazz cabaret dessa mulher que gravou cedo, entrou na indústria, assustou-se, voltou a cantar em pequenos bares e agora:


“Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love”

(Dance me to the end of love - Leonard Cohen)

Pop Internacional - 2005

Damien Rice

Da trilha de Closer para a novela da Globo, sem muitas músicas que me encantem mas para ser pop muitas vezes não se exige mais que uma canção e ele tem pelo menos duas:

“Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannonball

Still a little bit of your song in my ear
Still a little bit of your words I long to hear
You step a little closer to me
So close that I can't see what's going on”

(Cannonball - Damien Rice)

Cinema 2005

Zhang Yimou - Conjunto da obra



Não só pelo Clã das Adagas Voadoras e por Herói, mas também por outras obras que ilustraram este ano (Nenhum a menos, Lanternas Vermelhas)

Clássicos - 2005

João Carlos Martins - Cravo Bem Temperado

Monomaniacamente, ouvi e tentei tocar alguns prelúdios e fugas do Cravo Bem Temperado. Minha audição teve muito mais sucesso que minha execução. As gravações que vasculhei foram as de Glenn Gould, no piano, de Bob van Asperen, no cravo, e de João Carlos Martins, no piano. Para muito além da mera técnica J. C. Martins me mostrou claramente as vozes das fugas e o encadeamento dos prelúdios, principalmente o Prelúdio n. 7 do Livro I.

Revival - 2005

Pearl Jam - Turnê Brasileira

Vivi meus 17-18 anos, em 1988, no norte do estado Oregon e a cidade mais próxima era Seattle. Adorei o que pude conhecer e guardei de lá recordações melhores do que de San Francisco ou de Los Angeles.

Quando esses caras começaram a gritar, quatro anos mais tarde, eu entendia bem o ambiente de onde eles vinham e, pior, também tinha eu meus motivos para gritar.

Direto do túnel do tempo...

História em Quadrinhos - 2005

GEN - Pés descalços

Poderia ser o Buda ou o Lobo Solitário mas eles ainda estão sendo editados - ambos estão no vol. 11 - e possivelmente serão os escolhidos de 2006.

Gen é a história pré-durante-e-depois da bomba de Hiroshima contada em quadrinhos por um sobrevivente, Keiji Nakazawa.

quinta-feira, dezembro 15, 2005


Clara lua
Pequena flor
Luz e perfume

quarta-feira, dezembro 14, 2005

O descaminho do guerreiro - Literaturnost

Temos, finalmente, o HAGAKURE, de Yamamoto Tsunetomo, com uma boa edição da Conrad Livros. É uma nova seleção de 300 trechos, feita por William Scott Wilson a partir dos 13.000 trechos existentes, que não reproduz as seleções de editores japoneses. Mas mesmo assim, o bushi-do, o caminho do guerreiro, parece não ter lugar na nossa cultura.

Nosso mercado editorial errante chegou a publicar os comentários de Mishima ao Hagakure, hoje esgotado, sem se preocupar em editar o comentado.

Agora o caminho do guerreiro tem peregrinado por estantes de duvidosas classificações, honrando seu título original - Hagakure, 'escondido pelas folhas'.

Numa pequena livraria de bairro, ele estava junto à magia e ao misticismo. Pensei ‘samurai-> ninja -> magia??’. Perguntei:
- Qual o critério para...?
- É que todos esses livros vêm da mesma distribuidora.
- Ah...

Eu o procurei numa Mega Store e não havia forma de encontrá-lo na loja. Até o critério de afinidade de editora, recém descoberto, buscando estantes da Conrad, eu tentei. Quando cansei de vagar, pedi ajuda a um atendente que, depois de consultar o computador, me disse:
- Está na seção de esportes... Eu posso buscá-lo para o senhor.
- Ah, sim. Obrigado.

Mas o final dos tempos se aproxima e tudo pode ser mais estranho. A última vez que o vi, ele estava junto aos livros de auto-ajuda. Não pedi mais explicações. Só imaginei o que aconteceria se um adolescente desesperado e desavisado se agarrasse ao Hagakure:

“O caminho do Samurai é encontrado na morte. Entre ela ou qualquer outra coisa, não há dúvida: a escolha deve ser a morte. Não é algo particularmente difícil. Seja determinado e avance.” Hagakure, p.1

Só falta a manchete do Diário Gaúcho, no dia seguinte:

“LIVRO SATÂNICO LEVA ESTUDANTE AO SUICÍDIO”

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Aos pedaços - Literaturnost


Quando não te vejo não sinto tua falta
Tua ausência não é completa
Sinto tua falta aos pedaços ao ver um pouco de ti nos outros
São pequenas dores: cabelos e olhos fechados doem;
lábios entreabertos; sapatos também
De tudo um pouco
Mas te ver assim, inteira, de uma só vez
e te saber distante
é a mim que faz aos pedaços.

sábado, dezembro 10, 2005

Frase do mês - Ludopédio


Para fechar o Campeonato Brasileiro com bom humor, depois que o Internacional já cedeu às pressões da CBF e da COMEBOL e aceitou tuuuudo, tenho que registrar essa frase memorável dita por um corintiano a um colorado:

- Vocês (colorados) ficam chamando o Corinthians de ladrão... Ladrão é o Inter que quer roubar o título que o Corinthians comprou.

Nada mais a declarar.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Mono Corde - Literaturnost

Não há oásis nem miragem
no deserto da solidão.
Não há descanso para os
passos que arrasto.
Na lenta cadência monocorde,
meus pés varrem
a infinita distância entre
eu e mim mesmo.




As quatro estações
menino - lago - homem
as grandes lições






Filme de KIM KI-duk

Hai-kai de Gláucia Retamozo

quinta-feira, dezembro 08, 2005

LeminskiAno - Literaturnost




Marcas de expressão
sulcam meu rosto
Olho no espelho
e me pergunto
O que elas hão
de expressar?

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Todo jardineiro...



Tenho que confessar publicamente que só fui à Segunda Maluca por insistência das Margaridas.
Mas, parafraseando Milton, todo jardineiro tem que ir onde a flor está.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Los Hermanos - Bossa'n'Roll ou Rock Sincopado?



Eu não conhecia o grande Opinião porque sua maior expansão ocorreu nos últimos dez anos, quando estive fora do circuito, e foi impactante o constraste da pequena garagem da Joaquim Nabuco, ainda hoje uma área residencial - imaginem nos anos 80 - , e a grande casa de espetáculos, bem aparelhada e com ótima lotação em plena segunda-feira.

Os The Darma Lovers abriram a noite às onze e meia tocando suas músicas e uma versão de 'Quando o sol bater...' da Legião Urbana. O Jimi Joe, na viola de 12, e o 4nazzo, na guitarra, já garantiam muita qualidade mas o baixista foi um show a parte segurando a cozinha junto a uma boa percussão, que poderia ser mais ousada. Fecharam com 'O senhor da dança', se não me engano, em grande estilo.

Não havia Smirnoff Ice e tive que me contentar com Orloff.

Los Hermanos, para o meu ouvido, é uma banda que toca algo tipo Bossa'n'Roll. O vocal parece João Gilberto, quase recitando, para dentro, sem grandes variações melódicas e os arranjos tem a riqueza dissonante da bossa e do jazz. Em disco é um pop depressivo bem acabado.

Minha grata surpresa é que no palco a coisa toda muda radicalmente de figura. O peso das guitarras aumenta (e também seu volume), o baterista parece outro e os vocais passam da recitação ao berro.

O que poderia ser 'um banquinho, um violão' transforma-se num verdadeiro show de rock. Algumas vezes, um pop sincopado, excelente.

Quando eles lançarem um disco ao vivo passarão a contar com mais um admirador.

A essas alturas, algumas Ices na cabeça e outra na mão, estômago vazio, madrugada de terça, a Graforréia acabou ficando para a próxima, que espero não demore outros dez anos.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Final melancólico - Ludopédio


Um grande campeonato teve um final melancólico.

O Corinthians teve a chance liquidar qualquer dúvida quanto ao título ao enfrentar o Goiás que já não aspirava a nada. Houve, é verdade, um erro de arbitragem mas a bola mais uma vez queimou os pés milionários e foi patético assistir o timão ficar tocando bola conformado com a derrota. Um empate seria suficiente para consagrá-lo campeão com ou sem anulação de jogos.

O Internacional, que poderia incendiar o campeonato, não conseguiu vencer o rebaixado Coritiba. Uma vitória do colorado combinada com a derrota do Corinthians levaria a decisão do campeonato para os critérios de desempate. Ser vice-campeão pelo saldo de gols de um campeonato de pontos corridos daria aos colorados muito mais gás para gritar 'tetracampeão', ainda mais com os acontecimentos paralelos.

No final das contas, o dia foi de Romário que, cobrando dois pênaltis, sagrou-se goleador veterano do Campeonato Brasileiro.

Lembrando o polêmico erro do Márcio Rezende de Freitas e a consagração de Romário não posso deixar pensar que nosso belo campeonato de pontos corridos foi mesmo decidido nos pênaltis - os marcados e os não marcados.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

A farsa política está completa

Francisco José Viegas provocou, no seu blog, a discussão sobre a existência ou não de mensalão e eu fiz um comentário que reproduzo aqui ao confirmar a cassação do mandato de José Dirceu.

«Sobre a compra periódica de votos no Congresso Nacional, infelizmente, pode-se afirmar que é uma prática antiga e reiterada. Existe um histórico de cooptação ilegal do legislativo (e do judiciário) pelo executivo. Oficialmente, fazem-se acordos na divisão de esferas de poder, através de cargos e, extra-oficialmente, fazem-se com o repasse de recursos geridos por estes cargos aos destinatários. Toda a dinâmica é gerida pelos caciques dos partidos. No entanto, em momentos-chave, quebra-se a hierarquia e não se compra um partido todo, através de seu cacique, mas compra-se voto a varejo. No governo Fernando Henrique, a compra de votos, para aprovar a emenda constitucional que possibilitou sua reeleição, é um exemplo disso, mas não o único. O erro do PT não foi utilizar a compra de votos, foi abusar da compra de votos a varejo. Deixando de tratar com os caciques, que administravam internamente quem recebia quanto, e indo negociar individualmente houve a quebra de 'hierarquia partidária', no pior sentido do termo. Se, por um lado, essa desmedida de José Dirceu não pode passar impune, por outro, os mecanismos de cooptação não podem ser alterados. Por isso, Dirceu foi cassado. Por isso, não teremos reforma política (eleitoral). Mutatis mutandis, isso vale para discussão sobre caixa 2, que existe e continuará existindo, só não podendo ser utilizado para compras a varejo. Essa é a minha opinião sobre o tema.»

Tudo como dantes.