domingo, maio 23, 2010

Theatro Municipal de volta ao povo

As obras de restauração do Theatro Municipal estão quase prontas e este final de semana todos os detalhes dourados da fachada foram retocados: sábado, ao meio-dia, lia-se 'Theatro Mu' em dourado, seguido de 'nicipal' mais opaco. Os guindastes e andaimes ainda cercam o prédio mas não atrapalham a entrada.

No domingo, às 11 da manhã, Clara e eu fomos assistir um Tributo a John Williams prestado pela Orquestra Sinfônica Brasileira. Nossa expectativa era assistir Darth Vader regendo a orquestra, como já havia acontecido antes. Preço popular: R$1,00. Depois de uma hora de fila, finalmente entramos. Assim que sentamos, notei o estofamento e o novo piso. Faltavam 15 minutos para começar o espetáculo. Uma senhora, ao meu lado, abriu uma sacola de supermercado e sacou um pacote de bolacha recheada e começou alimentar um menino de não mais de quatro anos. Quando eu disse, em voz baixa, 'o que é isso?!?', Clara me informou 'é Trakinas, pai'. Minha vizinha já esfregava as mãos verticalmente para deixar cair os farelos. Não demorou muito para o rapaz que estava ao lado da Clara abrisse seu saco de amendoim caramelado. Isso me lembrou a primeira vez que fui a um concerto no Municipal. Era uma quinta-feira à noite. Saí apressado do trabalho para o metro e do metro para o Theatro, em jejum. Sentei ao soar da segunda trombeta. Ao meu lado, uma mulher tirou um sanduiche da bolsa e começou a roer. A música já tinha começado quando ela terminou.

Várias vezes fui distraído da música por temor de danos ao Theatro: pés no estofamento, garrafas de água passando de um lado para outro, carrinhos de brinquedo riscando o encosto...

O Theatro hoje voltou ao povo - um público faminto que, quando pode, vem matar a sua fome e comporta-se como se estivesse assistindo a algum programa de auditório 'na casa da sogra'.

Quanto ao espetáculo, só posso dizer que as trilhas fazem reviver as emoções que vivemos no cinema. Desde os primeiros acordes de Superman, eu já estava emocionado. As crianças não acompanharam Tubarão, A Lista de Schindler, nem Indiana Jones mas adoraram Harry Potter.

Quando a orquestra tocou a Marcha Imperial de Star Wars sem Darth Vader na regência, Clara começou a me castigar: Pai, cadê o Vader?. Tivemos o tema de Leia, de Yoda. E a cada 'pai, cadê o Vader?', a tensão aumentava. Lá pela quinta vez, eu apontei para o Nick Ellis e disse: 'filha, olha lá aquele cara com a menininha no colo, tá vendo? Ele é jedi'. Ela prontamente retrucou: 'Não é não. Ele não tem sabre de luz.' A coisa estava feia para o meu lado, depois de hora e meia de fila e duas horas de espetáculo. As luzes finalmente se apagaram e começamos a ouvir o resfolegar cada vez mais alto. Depois ouvimos: 'you don't know the power of the dark side'. Darth Vader e um clone entravam pela platéia e se dirigiam ao palco. Apoteose. Adultos e crianças fascinados.

No final, saímos correndo, felizes mas famintos, à procura de um restaurante na zona sul.

sábado, maio 01, 2010

Serafina Ajalla Retamozo

Mãe

O céu é o mesmo na estância.

Apojos de lua gorda
Cada vez engordas mais.

Na vida rasguei saudades
nesta distância de ti.
Fatias de céu perseguem
teus rumos dentro de mim.

Remenda meus sonhos, mãe!


Quitanda

Minha mãe faz nas quitandas
meia lua de pastel.

Vou para o céu das carreiras,
do meu balaio de vime
vendo luas a granel.

Pés de moleque - são luas
estreladas de amendoim.
Quitanda - céu de doçura
da minha infância sem fim.
Tanta estrela! Tanta lua!
- nenhuma estrela pra mim...


(dois poemas do livro Lua Andarenga, de José Hilário Ajalla Retamozo, publicados em 1957)